Me concede o prazer desta última dança? (última coluna para a Revista Pequenas Empresas Grandes Negócios)

Facundo Guerra
3 min readApr 20, 2022

Pois é, leitor, chegou o momento do fim. Esta é a minha última coluna nesta prestigiosa publicação. Para ser sincero, e sinceridade, se você me acompanhou ao longo dos anos, sempre foi uma prerrogativa de nossa relação, eu não vi o fim chegar.

Ele simplesmente aconteceu. Talvez os sinais já estivessem aqui: minha editora me lembrando todos os meses da coluna, que sempre entregava passada a hora; a escrita preguiçosa, sem muito refinamento, da qual não me orgulhava quando via o texto fossilizado, uma vez a revista impressa. Ou a falta de vontade de encontrar novos temas, que coubessem nos poucos toques que me eram reservados. Talvez os meses que se passavam, coluna a coluna, como marcadores de tempo. A ansiedade de mais uma coisa pra fazer. Os sinais estavam todos ali, o fim já estava anunciado. Eu só relutei para aceitá-lo.

Afinal, foram mais de 5 anos e dezenas de colunas. Não sei ao certo, perdi as contas, e isso pouco importa. Mas o fim desta coluna me fez enxergar uma analogia com meus negócios, e o empreendedorismo, de uma maneira mais ampla: quando é a hora do fim?

Antes de mais nada: não existe um fim. Existem recomeços. O fim, o fim mesmo, quando este chegar, você não saberá. Existe sempre um fim, que é engatado num início, assim, “um” como artigo indefinido, vago, impreciso. “O” fim, aquele certo e determinado, só quando os seus joelhos se encontrarem pela última vez, para não mais se separarem.

Termina uma história, como termina esta coluna, mas esse fim sempre lhe trará algo: espaço mental e físico para você se ocupar de outros negócios, ou amores, ou o que quer que o tempo extra lhe renda, energia (tudo é energia vital, leitor, e ela é finita e não renovável, porque seu combustível é o tempo: saiba muito bem onde aplicar a sua energia), lições, experiência, um fim é adubo. Ainda que você esteja rolando na merda, lembre-se de que existem histórias lindas adubadas por esterco. Lembre-se que o fracasso, assim como o sucesso, será sempre momentâneo, dependerá de perspectivas e será circunstancial. Não se lambuze com a sua própria saliva lambendo suas feridas provocadas pelo fracasso, mas tampouco se permita ficar empapado de si mesmo quando o sucesso aparecer voando pela sua vida. Sucesso ou fracasso: tudo é fugaz.

Você contou uma história, e histórias precisam ter um fim. E quando chegará o fim do seu negócio, você deve estar se perguntando? Três causas mortis: tesão, tempo, tostão. Sem tesão não há solução, logo o fim desta coluna, sem tempo para ter uma vida rica e se dedicar de corpo e alma ao seu projeto, não vale a pena seguir, sem dinheiro no caixa, não faz sentido, porque quem pratica filantropia é bilionário ou ongueiro. Se o seu negócio estiver perdendo dinheiro, coloque um número máximo para a sua perda e, quando ele chegar, baixe as portas pela derradeira vez. Tem muito empreendedor que morre lentamente de esperança.

Quando a hora do fim chegar, beba o morto. Junte os amigos para a última dança, festeje as histórias de luta de quem abriu o negócio, não faça como eu, que deixei de sepultar os mortos, nunca fiz um funeral à sua altura, e hoje eles me assombram. Coloque o ponto final na sua história com orgulho, não com vergonha. Conte a história de suas cicatrizes. Um fim é sempre um começo. Que bons ventos te levem.

Até logo.

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Facundo Guerra

Engenheiro de alimentos, jornalista internacional e político, mestre e doutor em Ciência Política pela PUC-SP, diagnosticado empreendedor aos 30 anos de idade.